quarta-feira, 17 de junho de 2015

VC4 Entrevista - Mario Sergio Cortella

Ontem (16) cerca de mil pessoas compareceram ao Clube Atlético Baependi, para a palestra “Cenários Turbulentos, Mudanças Velozes. Negação, proteção ou superação”, com o professor e filósofo Mario Sergio Cortella.
Em campanha assinada pela VC4, a palestra marcou o 6º Encontro de Ideias da ACIJS, e instigou novos pensamentos e questionamentos de todos que estiveram presentes.



Além de prestigiar o evento e pensar sobre o cenário político, econômico e cultural que estamos inseridos, aproveitamos a oportunidade para bater um papo com Cortella, buscando a sua percepção sobre a relação entre a publicidade e a filosofia.

Confira a entrevista. E, como disse Cortella, pense e questione!

VC4 – Apesar de possuir duas destinações diferentes, as profissões de publicitário e filósofo se assemelham muito, pois ambos estudam e pensam sobre o comportamento do ser humano, hábitos, culturas, pensamentos, crenças e escolhas. Em sua opinião, qual é a relação entre a publicidade e a filosofia?
CORTELLA – Eu costumo dizer que a publicidade é o Haikai da comunicação. O Haikai é uma expressão poética vinda do oriente, uma maneira de expressar filosofia. É só você pegar um Haikai, como do Paulo Leminski - meu conterrâneo paranaense - em que ele diz que “Tudo que li me irrita, quando ouço, Rita Lee”, ou quando ele diz “Pra quê cara feia? na vida ninguém paga meia”.
A publicidade é o Haikai da comunicação, pois ela se aproxima do modo como a filosofia é capaz de provocar, de instigar, de perturbar o óbvio. Obviamente, elas não têm a mesma destinação, mas elas se aproximam, quando procuram perturbar a tranquilidade e mexer numa direção que seja diversa.


VC4 – Um dos grandes desafios na área da publicidade é vender uma ideia. Como fazer isso?
CORTELLA – Isso é uma questão que a própria ideia está colocada no caminho de ser verdadeira ou não. O nazismo tinha seus filósofos e seus propagandistas. A má ideia também é vendida, por isso a questão não é apenas o que se vende, é qual a finalidade daquilo que se faz, não só como se vende, mas a razão daquilo que está sendo feito.
A publicidade não é inocente. Nem a filosofia.


VC4 – Qual a relação entre inspiração, criatividade e talento?
CORTELLA – As três coisas estão articuladas a ideia de esforço, evidentemente que alguém que consegue, por exemplo, falar durante uma hora e meia é alguém que passou mais ou menos 40 anos treinando para fazer isso.
Alguém pode dizer ao final de uma fala que você estava inspirado: “Sim, passei 40 anos treinando para fazê-la”.
Evidentemente, a inspiração e o talento estão ligados à capacidade de observação, na filosofia se observa, medita, reflete, indaga, questiona. Na publicidade também, senão não funciona.

VC4 – O termo talento é muito enaltecido em nossa área, o talento de escrever bem, de desenhar, de argumentar. Mas esse “talento” é alimentado dia a dia...
CORTELLA – Sim, é um esforço cotidiano, talento não é uma benção imediata.

VC4 – Deixe uma indicação de leitura para esses novos profissionais que estão entrando no mercado de trabalho, e para aqueles que querem se desenvolver ainda mais.
CORTELLA – Uma grande leitura a ser feita é a obra de Washington Olivetto. Há uma coleção da editora Saraiva chamada “O que a vida me ensinou”, e um dos livros é exatamente do Washington.
Vale a pena ver o que um homem da área da comunicação e publicidade nos diz, e observar como ele conduziu esse livro. É uma dica.

VC4 – Já que você citou o Washington Olivetto, nós temos muitos profissionais que nos inspiram e são grandes referências na área publicidade. E para você, como filósofo, quem te inspira?
CORTELLA – Sócrates, Aristóteles, Decartes, Kant, Hegel e Marx. Nessa ordem.

VC4 – Para finalizar deixe um recado para os profissionais que já estão no mercado de trabalho, tanto na filosofia, quanto na publicidade.

CORTELLA – É preciso tomar muito cuidado para não se apaixonar pela atividade, a paixão é a suspensão temporária do juízo, é preciso ter uma paixão como ponto de partida, mas ela tem que ser amor no ponto de chegada.


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