Ontem (16) cerca de mil pessoas compareceram ao Clube
Atlético Baependi, para a palestra “Cenários Turbulentos, Mudanças Velozes.
Negação, proteção ou superação”, com o professor e filósofo Mario Sergio
Cortella.
Em campanha assinada pela VC4, a palestra marcou o 6º
Encontro de Ideias da ACIJS, e instigou novos pensamentos e questionamentos de
todos que estiveram presentes.
Além de prestigiar o evento e pensar sobre o cenário
político, econômico e cultural que estamos inseridos, aproveitamos a
oportunidade para bater um papo com Cortella, buscando a sua percepção sobre a
relação entre a publicidade e a filosofia.
Confira a entrevista. E, como disse Cortella, pense e
questione!
VC4 – Apesar de
possuir duas destinações diferentes, as profissões de publicitário e filósofo
se assemelham muito, pois ambos estudam e pensam sobre o comportamento do ser
humano, hábitos, culturas, pensamentos, crenças e escolhas. Em sua opinião,
qual é a relação entre a publicidade e a filosofia?
CORTELLA – Eu
costumo dizer que a publicidade é o Haikai da comunicação. O Haikai é uma expressão
poética vinda do oriente, uma maneira de expressar filosofia. É só você pegar
um Haikai, como do Paulo Leminski - meu conterrâneo paranaense - em que ele diz
que “Tudo que li me irrita, quando ouço, Rita Lee”, ou quando ele diz “Pra quê
cara feia? na vida ninguém paga meia”.
A publicidade é o Haikai da comunicação, pois ela se
aproxima do modo como a filosofia é capaz de provocar, de instigar, de perturbar
o óbvio. Obviamente, elas não têm a mesma destinação, mas elas se aproximam,
quando procuram perturbar a tranquilidade e mexer numa direção que seja
diversa.
VC4 – Um dos grandes
desafios na área da publicidade é vender uma ideia. Como fazer isso?
CORTELLA – Isso é
uma questão que a própria ideia está colocada no caminho de ser verdadeira ou
não. O nazismo tinha seus filósofos e seus propagandistas. A má ideia também é
vendida, por isso a questão não é apenas o que se vende, é qual a finalidade
daquilo que se faz, não só como se vende, mas a razão daquilo que está sendo
feito.
A publicidade não é inocente. Nem a filosofia.
VC4 – Qual a relação
entre inspiração, criatividade e talento?
CORTELLA – As
três coisas estão articuladas a ideia de esforço, evidentemente que alguém que
consegue, por exemplo, falar durante uma hora e meia é alguém que passou mais
ou menos 40 anos treinando para fazer isso.
Alguém pode dizer ao final de uma fala que você estava
inspirado: “Sim, passei 40 anos treinando para fazê-la”.
Evidentemente, a inspiração e o talento estão ligados à
capacidade de observação, na filosofia se observa, medita, reflete, indaga,
questiona. Na publicidade também, senão não funciona.
VC4 – O termo talento
é muito enaltecido em nossa área, o talento de escrever bem, de desenhar, de
argumentar. Mas esse “talento” é alimentado dia a dia...
CORTELLA – Sim, é
um esforço cotidiano, talento não é uma benção imediata.
VC4 – Deixe uma
indicação de leitura para esses novos profissionais que estão entrando no
mercado de trabalho, e para aqueles que querem se desenvolver ainda mais.
CORTELLA – Uma
grande leitura a ser feita é a obra de Washington Olivetto. Há uma coleção da
editora Saraiva chamada “O que a vida me ensinou”, e um dos livros é exatamente
do Washington.
Vale a pena ver o que um homem da área da comunicação e
publicidade nos diz, e observar como ele conduziu esse livro. É uma dica.
VC4 – Já que você
citou o Washington Olivetto, nós temos muitos profissionais que nos inspiram e
são grandes referências na área publicidade. E para você, como filósofo, quem
te inspira?
CORTELLA –
Sócrates, Aristóteles, Decartes, Kant, Hegel e Marx. Nessa ordem.
VC4 – Para finalizar
deixe um recado para os profissionais que já estão no mercado de trabalho,
tanto na filosofia, quanto na publicidade.
CORTELLA – É
preciso tomar muito cuidado para não se apaixonar pela atividade, a paixão é a
suspensão temporária do juízo, é preciso ter uma paixão como ponto de partida,
mas ela tem que ser amor no ponto de chegada.
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