Entrevistamos Roberto Fernandez, esse publicitário que tem muita história pra contar pra gente.
Atualmente Roberto está trabalhando na agência BBH, em Londres!
Em um bate-papo super descontraído por Skype, ele compartilhou um pouco da sua experiência profissional com a gente.
Confira:
VC4 – Porque você escolheu a área de publicidade?
Roberto – “Escolhi propaganda porque gosto muito de arte e
comecei a trabalhar com ilustração em quadrinhos desde muito pequeno, sete-oito
anos já fazia isso intensivamente e com treze-quatorze anos comecei a fazer
exposições. Isso me levou a ser chamado pra fazer projetos de design gráfico,
como uma coisa alternativa, provisória, eventual, mas que foi ficando cada vez
mais intenso. Então quando cheguei na idade de vestibular, conseguia muita
convicção pra trabalhar como designer ou como publicitário. Eu achava que como
publicitário tinha mais potencial, por isso que fui pra essa área. Então eu
tinha, ao contrário de muita gente, na idade de vestibular, muita certeza de
que eu queria trabalhar com isso.”
VC4 – Como você começou sua trajetória profissional? Em
quais agências já trabalhou? Conta pra gente um pouco mais da sua história.
Roberto – “Bom, eu tenho um irmão gêmeo, idêntico, então a
gente começou desenhando e fazendo exposições juntos. A nossa primeira
exposição era de um personagem de quadrinhos que a gente tinha inventado
chamado Almas Gêmeas, esse personagem
era xifópago, um gêmeo com um corpo só e duas cabeças, ele passava por tipo de
piada de que você consiga imaginar. Publicávamos também tiras de arte no jornal
do Estado do Paraná. Estudamos na Federal do Paraná e logo no primeiro ano da
faculdade já íamos montar uma agência, pois tínhamos muitos projetos, que
vinham nos acompanhando desde os nossos quatorze anos de idade. Montamos a
agência Almas Gêmeas, começamos a atender várias contas e o negócio foi
crescendo, mas era completamente desorganizado, porque era só eu e o meu irmão
que fazíamos tudo, atendimento, planejamento, produção, mídia, etc. Então foi
legal pra saber como funciona uma agência e deu pra aprender bastante com os
erros também. Porém, o nosso forte que era criação publicitária tava rolando
muito pouco, assim optamos por fechar o nosso negócio e entrar em uma agência
de verdade. Fomos contratados na Exclam, onde ficamos 3 anos. Saindo de lá
fomos pra Master, na qual conseguimos ganhar um leão de prata em Cannes, o que
pra propaganda no Paraná é uma coisa astronômica. Ganhar um leão de prata na
categoria Print é muito raro, deve ter 2 ou 3 leões na história da propaganda
e, a gente ganhou um deles. E isso abriu as portas pra São Paulo. Recebemos uma
proposta na Almap, tentamos convencer essa agência a contratar nós dois, porém
o Marcelo Serpa queria um só; pra decidir fizemos par ou ímpar e, o meu irmão
(Renato Fernandez) ganhou. Peguei então meu portfólio e coloquei um sticker na
capa que dizia assim: Marcelo Serpa
contratou um gêmeo com portfólio igual. Mandei esse portfólio pra DM9, a
qual me contratou na hora.”
VC4 – E agora você está em Londres! Qual a diferença entre
as agências europeias e brasileiras?
Roberto – “Na verdade eu já tinha um pouco dessa noção de
diferença, pois da DM9, fui pra Almap, ainda como diretor de arte, porém, ao ir
migrar para a Thompson virei diretor de criação. A Thompson é uma agência muito
mais global, então eu vivia nas reuniões em Londres, Nova Iorque, Singapura, etc.,
fazendo projetos globais. A criação no Brasil é muito focada em TV e print e
fora do Brasil isso já não é mais o principal há algum tempo. O meu dia-a-dia
não muda muito aqui; o que muda mesmo é viver em uma cultura diferente.”
VC4 – Que nomes da publicidade mundial você admira?
Roberto – As duas agências que eu mais admiro na história da
propaganda são Wieden Kennedy e BBH, admiro fundamentalmente por causa de seus
líderes. Nacionalmente admiro Marcelo Serpa e Nizan Guanaes, que são gênios com
os quais já trabalhei.”
VC4 – Sobre o seu trabalho, como funciona o seu processo criativo?
Roberto – Não existe exatamente um processo criativo, o que
tem é um processo de se provocar para que as ideias aconteçam. Tem que ter
tempo e disposição para trabalhar muito. As boas ideias não vão vêm fácil. Tem
uma frase do Picasso que eu cito sempre: Que
a inspiração chegue não depende de mim. A única coisa que posso fazer é
garantir que ela me encontre trabalhando. O nosso trabalho é parecido com a
poesia, fazemos algo e ficamos refazendo até encontrar a excelência absoluta de
executar aquela ideia. Uma coisa que eu aprendi é que você não atira no leão de
ouro, mas sim na nota 6, depois você tenta a 7, depois a 8; assim depois de uma
semana você vai ter um trabalho bom para apresentar, mas se você já começar
buscando a nota 10 você vai acabar se frustrando. O Nizan me ensinou a fazer “o
anúncio burro”, que é aquele anúncio sem ideia nenhuma, mas que diz exatamente
o que tem que dizer. Se o anúncio produzido depois disser a mesma coisa, porém, de uma forma
melhor, você conseguiu comunicar o que precisava.”
VC4 – Que característica você considera que seja essencial
em um publicitário?
Roberto – “Ser extremamente curioso. Ter vontade de conhecer
tudo sem nenhum preconceito. Gostar de ver, ouvir, ler de tudo um pouco. Você
precisa tentar mostrar que é uma pessoa interessante e, se você não tem
conteúdo não conseguirá.”
VC4 - Você foi jurado
em Cannes. Conte pra gente como foi essa experiência.
Roberto – “Ser jurado em Cannes é, sobretudo, uma aula. É
muito difícil e desgastante, ainda mais sendo um jurado brasileiro, pois o
Brasil é um dos países mais fortes na propaganda do mundo. Você tem que ser ao
mesmo tempo um embaixador que tenta ajudar os caras lá de fora a entender o
contexto das propagandas brasileiras, é uma grande responsabilidade. Tem que
ter muita opinião.”
VC4 – O que te inspira a continuar na área da publicidade?
Roberto – “A certeza de que eu não me divertiria tanto em
outra coisa. Eu tenho muita paixão pelo o que eu faço. Gosto muito de criar,
gosto muito de arte. E, a publicidade é uma área que eu posso fazer isso e ser
pago de uma maneira que eu possa me manter bem. No Brasil se quiser viver de
arte é muito difícil. Me identifiquei desde muito jovem com a publicidade. Não
me vejo fazendo outra coisa.”
VC4 – Queremos conhecer mais sobre você: quais são seus
livros, filmes e bandas favoritas?
Roberto – Gosto muito de tudo, vejo de tudo. O último filme
que vi foi Birdman, mas eu gosto muito de filmes que me emocionam, e esses
geralmente não são filmes americanos. Dois exemplos são A Despedida e Lemon Three.
Gosto de cinema argentino, pois sabem contar bem as histórias. Com relação à
música eu gosto muito de samba, sambas de raiz essencialmente; e também de algumas
bandas de rock. De livros eu adoro ler biografias.”
VC4 – Que recado você gostaria de dar a nova geração
publicitária?
Roberto – “O principal recado é: Não esqueçam que vocês são
a nova geração! As coisas que eu tenho visto da nova geração é a tentativa de copiar
o que a geração que ta aí está fazendo. A Social Media nasceu junto com essa
nova geração e isso faz com que a relação seja muito mais intensa, o que é uma
vantagem. Enfim, é preciso ter uma nova forma de pensar.”
Roberto Fernandez por Skype, em entrevista com a VC4. |
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